quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma


Artigo extraído do site: www.cartamaior.com.br

Leonardo Boff


Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso”pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais” onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida, me avaliza para fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.


Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando vêem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.


Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do pais, ao Presidente Lula. Nele vêem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.


Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.


Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e nãocontemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.


Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles tem pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.


Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.


O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.


Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.


O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.


O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.


Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.



(*) Teólogo, filósofo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Reforma política urgente



Ao olhar o leque de candidaturas e alianças políticas construídas para as eleições de 2010, fica difícil para qualquer cidadão que seja formador de opinião, entender as costuras feitas pelas mais diversas agremiações partidárias, imagina para o cidadão comum que vai simplesmente, no dia 03 de outubro, expressar a sua vontade política, através das urnas.
Já não basta a infinidade de candidatos “famosos” que se apresentaram para o pleito desse ano, conforme retrata a mídia nacional:

No Esporte: Acelino Popó Freitas (PRB-BA)-deputado estadual; Maguila (PTN-SP)-deputado federal; Marcelinho Carioca (PSB-SP)-deputado federal; Romário (PSB-RJ)-deputado federal; Vampeta (PTB-SP)-deputado federal; Fabiano (PMDB-RS)-deputado estadual; Danrlei (PTB-RS)-deputado federal.

Na Música: Gaúcho da Fronteira (PTB-RS)-deputado estadual; Kiko (DEM-SP)-KLB, deputado federal; Leandro (DEM-SP)-KLB, deputado estadual. Netinho (PCdoB-SP) - Cantor do grupo Negritude, candidato ao senado; Reginaldo Rossi (PDT-PE)-deputado estadual; Renner (PP-GO)-dupla Rick&Renner, candidato ao senado; Sérgio Reis, Cantor e Ator-deputado federal; Tati Quebra Barraco (PTC-RJ)-Funkeira-deputada federal.

Na Televisão: Ronaldo Esper (PTC-SP) - estilista-deputado federal; Pedro Manso (PRB-RJ)-Humorista, deputado estadual; Dedé Santana (PSC-PR) – Humorista-deputado estadual; Tiririca (PR-SP)-Humorista-deputado federal; Batoré (PP-SP) – Humorista-deputado federal.

                        No caso específico do Rio Grande do Norte, é candidato a senador com uma posição a nível nacional, caso do senador Garibaldi Filho – PMDB/RN, e outra a nível estadual; é candidato a deputado estadual e presidente municipal da agremiação, Sargento Regina – PDT/RN, rasgando elogios ao líder da oposição, José Agripino.
                        E o caso mais recente é a criação de um comitê, por iniciativa do Partido Social Liberal - PSL e Partido Trabalhista Nacional - PTN, que visa reunir aliados da candidatura Dilma Rousseff e Rosalba Ciarlini no Rio Grande do Norte, segundo matéria de jornal local, do dia 08 de setembro de 2010.
                        Entendo que a representação política é ou deveria ser feita para expressar os pontos de vista ideológicos e políticos de um candidato, e não como barganha ou agradecimento por favorecimento pessoal prestado por esse ou aquele parlamentar.
Nada contra as opiniões pessoais de candidatos e eleitores, mas se fizermos uma análise lúcida do ponto de vista político-ideológico, é urgente que seja feita a reforma política e que haja uma legislação eleitoral mais rígida, especificamente para o período de campanhas.
Ou então teremos que optar entre a conhecida frase do escritor Nelson Rodrigues, que dizia: “Toda unanimidade é burra” ou o trecho do musical infantil “ Os Saltimbancos/1977, produzido por Chico Buarque de Holanda: ...Todos juntos somos fortes/Somos flecha e somos arco/Todos nós no mesmo barco/Não há nada pra temer... Preservada a devida contextualização da poesia, para não entrarmos, definitivamente, no reino da mediocridade.