sexta-feira, 2 de abril de 2010

LEMBRANÇAS DO TERROR-Pretextato Cruz


Pretextato José da Cruz foi despertado para a construção de um modelo de sociedade socialista na década de 30 do século passado, aos 10 anos de idade, precisamente, novembro de 1935, quando militares rebelaram-se contra o poder constituído, protestando contra o fechamento da Aliança Nacional Libertadora – ANL, (agremiação política que congregava todas as forças de esquerda) acusada de incitar a subversão.

Pretextato morava na casa de uma prima que era casada com o cabo do exército, Giocondo Dias, ex-dirigente nacional do Partido Comunista Brasileiro. Acompanhou toda a luta, reuniões e o apoio dado pelos militares do 21ºBatalhão de Caçadores para a rebelião de 35, sendo o Rio Grande do Norte o primeiro estado a iniciar a rebelião. “Aquilo tava combinado pra ser tudo num dia; movimento nacional. Isso tudo, essa história todinha, quem me contou, depois, foi Giocondo, o sentido da coisa como tinha sido; e o pai de Roberto Furtado, João Maria Furtado, que era Procurador da Justiça. Tem aquele livro dele, “Vertentes”, contando o movimento de 35, aqui em Natal”, explicou.

Por falha de comunicação entre os militares dos estados, cada região iniciou a rebelião em datas diferentes, o que causou o insucesso da ação.

Além de empolgado com os fatos históricos ocorridos em Natal, Pretextato buscou o entendimento e, com 17 anos, trabalhando em uma padaria, no bairro de Lagoa Seca, viu no jornal a busca por voluntários para o 29º BC. “Fui para o quartel, cheguei lá sentei praça; fiquei no 29º, três ou quatro meses, fazendo exercícios apaisano. Toda a roupa que eu tinha estragou-se descendo aquelas ladeiras da Ribeira”, disse.

Durante todo o período da Segunda Guerra Mundial, Pretextato serviu como voluntário ao exército brasileiro. Deixou de ir lutar na Itália por determinação militar, já que era um voluntário de boa conduta, em detrimento de outro, residente em Canguaretama/RN, e que vivia sendo punido por atos de indisciplina.

Terminada a Segunda Guerra e após um período de desemprego, Cruz participava dos jogos de futebol de final de semana, realizado pelo Sindicato dos Estivadores. Foi convidado pelo presidente do time, no mercado público do bairro do Alecrim, após o jogo, para ocupar uma das cinco vagas que existiam para estivador. “A minha origem não era a classe operária. Eu era pequeno-burguês, da pequena burguesia rural”, esclareceu.

Em 1946 entrou para a classe operária carregando fardos de algodão de 200 kg, para embarque em navios. “Trabalhei o primeiro dia; fiquei todo arranhado, todo cortado. Cheguei lá no sindicato, troquei de roupa e disse: olha, você fique com o seu trabalho aí. Ele disse: rapaz, você continue porque isso é no primeiro dia”, falou Pretextato.

Em 1950 foi eleito como suplente da direção do sindicato; em 1952 foi eleito secretário e começou a exercer liderança junto aos estivadores do Caís do Porto.

Em 1954 recebeu um recado de Luis Maranhão Filho, professor do Atheneu Norte-rio-grandense e líder nacional do Partido Comunista. Segundo Pretextato, disse Luis Maranhão: “Eu mandei chamar você aqui porque você é o cara que ta liderando os portuários, e ta fazendo tarefa do Partido sem saber; porque tudo que vocês tão fazendo aí no Porto ta sendo orientado pelo Partido Comunista Nacional”.

“Ele (Luis Maranhão) me deu todos os clássicos do partido (Lênin, Marx, Rosa Luxemburgo). Leve, depois você vai me dizer o resultado”, expressou o líder sindical.

Depois de todas as leituras, Pretextato voltou a procurar Luis Maranhão e assinou a ficha do partido, passando a fazer parte do comitê municipal de Natal e da executiva estadual do RN, juntamente com José Campelo Filho, do Sindicato dos Bancários; Evlim Medeiros, do Sindicato da Construção Civil; José Macedo Sobrinho, vereador e membro do Sindicato dos Sapateiros e José Alves.

O sindicalista ficou fazendo o trabalho de base do partido, junto aos marítimos, e passou, também, a fazer parte do comitê nacionalista criado por Djalma Maranhão.

Participou da Cruzada da Esperança, que elegeu Djalma Maranhão prefeito, e Aluízio Alves, governador do estado. Após sete meses de governo, Aluízio rompeu com as forças de esquerda.

No final de março de 1964, Pretextato havia viajado para a reunião da Federação Nacional dos Estivadores, como presidente da entidade, com mandato para terminar no mês de julho. Viajou para o Rio de Janeiro, com Campelo, que era membro da diretoria do Sindicato dos Bancários. Pretextato participou de uma reunião no Ministério do Trabalho, que solicitava um reajuste de 40% para a sua categoria. Havia marcado o retorno, juntamente com Campelo, para Natal. Campelo retornou sozinho e quando desembarcou no aeroporto, já havia um grupo de militares que o esperavam. Foi preso e torturado.

Pretextato, a partir desse fato, entrou para a clandestinidade. No dia seguinte, procurou um amigo de Ceará Mirim, residente no Rio, ex-combatente, que foi ao aeroporto Santos Dumont, a pedido dele, saber se estavam fazendo triagem para embarque. “Se não tiver você marca a minha passagem. Ele foi; tava tudo normal”, disse.

Pretextato viajou com um amigo e resolveu desembarcar em Recife, por medida de segurança. O amigo disse que o irmão havia assumido um cargo, como representante da ditadura militar. Para sua sorte, o bom senso do amigo prevaleceu e o mesmo não apresentou Pretextato como liderança sindical.

Encontrou-se com Breno Capistrano, que o convidou para seguir para Cuba em um avião particular. Pretextato não aceitou o convite. Lembrou-se que no dia anterior ao dia em que desembarcou os militares haviam amarrado e arrastado em um jipe, o líder político Gregório Bezerra pelas ruas do Recife, causando a indignação da população local.

Ao chegar a Natal, procurou saber de Luis Maranhão se poderia se entregar aos militares. Luis mandou dizer a ele: “É preferível um comunista solto a dez comunistas presos”. A partir daí Pretextato retornou com a família para o Rio de Janeiro, e a sua casa ficou como sede da Executiva Nacional do Partido Comunista Brasileiro.

Em 1968, o líder sindical, visado pelos militares, encontrou-se com Luis Maranhão na praça Saens Pena, no Rio. Luis comunicou que o partido iria enviar Pretextato à Rússia para participar de um curso sobre Marxismo-Leninismo, em Moscou, no período entre 1968/1969. “A família ficou no Rio e o Partido Comunista ficou cobrindo tudo. Eu posso dizer que os meus filhos da segunda mulher, são filhos do Partido Comunista. Era quem dava roupa, dava tudo. A irmã de Luis Carlos Prestes era madrinha dos meus dois filhos”, desabafou.

Ao retornar ao Rio, foi vendedor de coleção de livros. Estava na av. Graça Aranha, para ir ao Instituto do Sal do RN. O elevador cheio demais, quando olhou para trás encontrou Aluízio Alves. Aluízio perguntou onde o líder sindical estava e o orientou a ir ao Centro Norte-rio-grandense, no outro dia. Aluízio vivia no Rio, cassado pela ditadura. Quando Pretextato chegou ao centro Norte-rio-grandense estavam Aluízio e Tarcísio Maia. Aluízio disse: “Tarcísio, esse aí foi o homem que me deu mais trabalho no Rio Grande do Norte. Esse aí e Evelin Medeiros”. Aluízio Alves comprou a coleção mais cara, como forma de ajudar a Pretextato.

Nesse período, as forças de esquerda se agruparam no Movimento Democrático Brasileiro – MDB e, após a Anistia, Pretextato retornou para Natal.

Foi aposentado como ex-combatente; assumiu um cargo de confiança na URBANA, durante a administração Garibaldi Filho, como prefeito de Natal; durante a administração Aldo Tinoco, assumiu a subprefeitura da zona leste e posteriormente a subprefeitura da zona sul. Pretextato José da Cruz era filiado ao Partido Popular Socialista – PPS, e morreu no dia 07 de março de 2009, aos 85 anos, em função de um câncer de próstata.