sábado, 27 de março de 2010

Touros, 175 anos de emancipação política


Impossível não se emocionar, distante fisicamente de Touros, e ao mesmo tempo resgatando lembranças de momentos vividos nesse chão aonde desfrutei boa parte de minha infância, de minha juventude, de minha vida, mesmo não sendo filho natural do lugar.

E assim, a memória vai voltando a tempos passados quando presenciava o senhor Francisquinho de Gustavo produzindo chumbadas que seriam utilizadas no labor diário dos pescadores; Lourival Colônia, esposo de minha tia Maria (Maria de Louro) chegando do mar com o peixe para a venda e para o sustento da família, e ali eu partilhava o peixe fresco juntamente com os seus filhos; os banhos de mar por toda a manhã com os primos e de lá para o rio da barreira; a ida ao tourinho para pescar lagostinho com Zequinha (Zequinha Cabelo).

A cidade em seu crescimento, com características de vila, tinha o peixe como seu alimento principal e ainda não desfrutava de supermercados, açougues, postos de combustíveis, etc. Nos retornos dos finais de semana, os visitantes abasteciam os seus veículos no comércio do senhor Joaquim Gomes; as famílias criavam patos, galinhas no próprio quintal, de forma que ao não ter o peixe, tinham as aves como alimento.

No aspecto cultural a presença marcante e respeitada do grupo as Bandeirinhas durante os festejos juninos; o Côco de Roda na Colônia de Pescadores; no carnaval o grupo dos indíos do senhor Cisco Pinico, A Ala Ursa de Belchior e seu Filho Luquinha; o Zé Pereira, no sábado de carnaval; os papangus pelas ruas; blocos carnavalescos, com destaque para Os Caramujos, tendo como anfitriã Ivonete Lopes, juntamente com meus pais (Sebastião e Neide Penha) e a participação massiva de tourenses, bloco este alusivo ao trabalho de combate ao caramujo, por parte do Ministério da Saúde, com a instalação de banheiros de alvenaria nas residências. A versão da música do bloco dizia mais ou menos assim: “Nós os caramujos, aqui em Touros somos os maiorais, mas na hora do combate é da Sucam que gostamos mais”.

Outras lembranças são os momentos de reunião de Nilson Patriota com os meus pais, na casa de Francisquinho Dú, para cantarem as poesias de Porto Filho, ao som dos violões de José Antão e José Maria; nesses mesmos momentos escutar Damião de Souza (Damião Caquica) cantar Adeus a Touros.

Quando já na maturidade da juventude, a realização da I Semana de Cultura, em janeiro de 1988, com a participação da comunidade tourense e a realização de apresentações as mais variadas (o mamulengueiro Chico Daniel, o músico Bráulio Tavares e as representações da cultura tourense); posteriormente a criação da Fundação José Porto Filho, em janeiro de 1989; toda essa intensidade cultural na companhia de pessoas como Bosco Teixeira, Roberto Patriota, Iran Potiguar, Ivanildo Penha e tantos outros tourenses que se envolveram no resgate da cultura local.

Foram movimentos e campanhas nada fáceis, em função de serem vistos como uma ameaça ao status quo da elite política local.

175 anos de emancipação política, olhando para a realidade de Touros, o seu peso cultural e histórico, a proximidade com a capital do Rio Grande do Norte e o crescimento de outras cidades por esse Brasil a fora, é possível perceber que o débito dos dirigentes políticos e o seu descompromisso com o município é cada vez maior.

A luta e a esperança por dias melhores continuam a manter acesa a chama da transformação em meu coração. Parabéns, Touros, parabéns povo de Touros e fiquemos com estes versos de minha autoria neste dia de festa:


Não nasci nas trincheiras da velha Ribeira
Mas sou um canguleiro
Pois dos peixes do mar
O cangulo é o prato mais gostoso que eu comi
Foi na praia de Touros
Na casa de Louro
E de tantos outros mais
A lição dessa escola
Aprendi com a viola
Lá nos seus quintais.

É tanta emoção
A história desse chão
Galo canta, na campina
Ode a Touros
Bom Jesus
Sinta a fé desse seu povo
Porto Filho
O poeta popular
Zé Padeiro a pular
Da matriz lá do lugar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Roriz, o pai de todos-Leandro Fortes

O trecho abaixo e a foto são parte da análise publicada no dia 04/03/2010, pelo jornalista Leandro Fortes, repórter da revista Carta Capital, em seu blog: http://brasiliaeuvi.wordpress.com/2010/03/04/roriz-o-pai-de-todos/


"A simples perspectiva de que Joaquim Roriz possa ser eleito, novamente, governador do Distrito Federal, deve ser encarada como sintoma de uma grave doença de caráter do eleitor do DF. Um fenômeno a ser discutido como questão prioritária de educação e de formação cultural, essa sim, a ser cuidadosamente pensada como intervenção federal. A posição de Roriz nas pesquisas revela, até aqui, uma inclinação corrupta dos eleitores do DF, inclusive da abastada classe média de Brasília (que nada tem a ver com a dura realidade das cidades-satélites).
Um pêndulo que oscila entre a ignorância e a má fé, sustentado por uma sinistra certeza de que, por aqui, ladrão não é quem rouba, mas só quem é pego roubando".

Leandro Fortes

quarta-feira, 24 de março de 2010

CD Ivanildo Penha e Convidados


O CD Ivanildo Penha e Convidados, lançado no ano 2000, é uma coletânea do cancioneiro tourense, gravada por iniciativa do médico e compositor Ivanildo Cortez de Souza, produtor executivo do CD. O disco é composto de 15 canções incluindo o Hino de Touros e o Hino do padroeiro de Touros, o Bom Jesus dos Navegantes.

As composições do disco são de José Porto Filho, Luiz Patriota, padre Antônio Antas, Airton Ramalho, Ivanildo Penha, Carlos Penha e Luiz Penha.

A produção musical é do compositor Erivaldo Nascimento Galvão (Babal), com a participação dos músicos Jubileu Filho, Ricardo, José Fontes, Marcos Lima, Francilúzio, Eduardo Taufic, Alexandre, Marconi, Gilberto, Distefanno, Galvão Filho.

O vocal tem a participação de Adriana Ribeiro, Aline Ribeiro, Ozanita e Betinha.

Conheça algumas das composições presentes no CD:

ODE A TOUROS
Autor: José Porto Filho

Vou cantar a minha vila, que cintila
Sob o clarão do luar...
Maceió desce encantado e prateado,
Em busca do verde mar,
Vagaroso, com ciúmes
De seus constantes queixumes,
Que ele está a murmurar

Touros, meu berço querido,
Terra santa de meus pais.
Não me deixes esquecido...
Touros, meu berço querido,
Escutai meus tristes ais!

Lembro ouvir o gorjeado do canário,
Nas claras manhãs de estio.
Sobre o leque dos coqueiros altaneiros,
Retratados pelo rio...
Como é lindo, donairoso,
Quando o cantar mavioso,
Ensaia o seu enxurrio.

Ao romper das madrugadas as jangadas
Vão singrando à pescaria
Conduzindo os pescadores, sem temores
Da fúria da ventania.
E nesse labor insano,
Dominando o oceano,
Com arrojo e valentia

A tardinha em horas mortas, quais gaivotas
De velas pandas ao vento
As jangadas que regressam, se apressam
Ao local do encalhamento...
Depois, nas choças de amores
Esses bravos pescadores
Não soltam um só lamento!


O PÁSSARO CATIVO
Autor: Luiz Patriota

Cantei um dia para acalentar a vida
Como triste canta um preso passarinho
Numa linguagem doce e sentida
Também canta, com saudades do ninho

A vida é triste, que de prazer me resta
Já foram-se as festas com alegria e tudo
Num sonho róseo vaporou-se tudo
Aqui é um cárcere solitário e mudo

Aqui é um cárcere solitário e mudo
Onde não posso sonhar com a liberdade
Num sonho róseo vaporou-se tudo
Aqui é um cárcere solitário e mudo


HINO DO BOM JESUS DOS NAVEGANTES
Autor: padre Antônio Antas

Meigo e bom, jaz suspenso no madeiro
Ostentando as agruras do sofrer
Bom Jesus, Deus e homem verdadeiro
Que por nós veio à terra padecer

Divino Bom Jesus dos Navegantes
Os teus filhos proteges com vigor
Nos lares ou nas lidas ofegantes
Sempre sê guia, mestre e bom pastor

A coroa de espinhos na cabeça
Torturando esta parte tão sensível
Nos ensine um amor que não feneça
Crie em nós uma fé imperecível

Estas chagas que a lança abriu no lado
Perfurando o amante coração
Cure em nós os afetos desregrados
Aumentando a virtude e o amor são


Estes pés, estas mãos dilaceradas
Nas agruras de atrozes sofrimentos
Ao dever nos conduz encaminhados
Para o bem, pela lei dos Mandamentos

E do trono da cruz a dominar
A Paróquia ouve o hino que ela entoa
Na cidade, nos campos ou no mar
Os teus filhos proteges e abençoas.


PRAIA DE TOUROS
Autor: Airton Ramalho

Touros,
Tua praia de rara beleza
Foi presente da natureza
De encantos naturais


Touros,
Cidade que inspira os poetas
Descrevendo de tuas festas
Poemas tão divinais

Falar de tudo
Eu não posso, fico mudo
E num silêncio profundo
Vejo que ali está o meu mundo
A tua igrejinha,
Que fica pertinho do mar
Quantos casais já uniu
E em Touros foram sonhar
E o tourinho,
Passeio dos namorados
Que ficam lá abraçados
Olhando as ondas do mar

E os teus coqueiros
As margens de um rio sereno
Oscilando do beijo ameno
Do vento que sopra do mar
É um cenário, rico e cheio de amor
Só lamento não ser pintor
Prá belo quadro eu pintar.


TOUROS
Autor: Ivanildo Penha

Tem pic-nic lá prás bandas do farol
Pescaria pela barra do riacho Maceió
Beijo roubado no penhasco escarpado
E coqueiro recortado trás os montes contra o sol
Eu esmoreço, esqueço até da hora
Preso num tresmalho sem querer sair
E só me mexo quando o meu chamego
Arma sua rede e vem chamar prá se dormir


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros

Se o sol renasce lá na barra do horizonte
Meu amor me acorda cedo prá eu poder me espreguiçar
Se lavrador, eu vou pro cabo da enxada
Jangadeiro prá jangada, boiadeiro prá aboiar
De volta ao rancho eu fico assuntando
Terá doce de coco, goiaba ou caju
Mas quando eu vou chegando no terreiro
Me basta aquele beijo com sabor de guajirú


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros

E assim a vida escorrega bem dolente
Quem se enrabichou contente, mas nem tudo é só fulô
Tem moça veia que se posta no batente
Esperando finalmente um xodó que não voltou
E essa coisa toda me azucrina
E em riba desta sina de enganar a dor
Em cada uma eu vejo Vitalina
Toda empoada esperando o seu amor


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros

E desse jeito, eu sou feliz
Sei que meus passos me levam ali

Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros


EVOCAÇÃO
Autor: Carlos Penha

Esses coqueiros
Leques esvoacentos
Que acenam prá o mar
E essas dunas já tão derrubadas
De outroras luadas
Lá do Tourinho vemos o farol
Sentinela do mar
E a Matriz olhando pro tempo
Desde 1800, muito tempo atrás

O Morro Vermelho
Ás águas do Mangue
Coisas da minha infância
O banho de bica e no Boqueirão
Tanta brincadeira
E as belas serestas
As canções de Porto e o violão de Pereira
Assim era o povo e a tradição
Da terra praieira


NATUREZA SEMPRE VIVA
Autor: Luiz Penha

O que eu conheço são gaivotas sem destino
Farol no meio do marzão a iluminar
Parracho Seco, natureza sempre viva
Solidão, dor infinita
Que às vezes nos faz chorar

Tua areia sobre as águas, lua cheia
E as estrelas, cintilando o sideral
O jangadeiro, indo e vindo, madrugada
Seresteiros na calçada
Violão, som musical

Ó padroeiro, Bom Jesus dos Navegantes
Abençoai os jangadeiros do torrão
Pois nessa luta que se chama pescaria
Estão eles todo dia a pescar a refeição


E assim vão indo a viver cada segundo
Fazendo parte desse quadro natural
Parracho Seco, coqueiral, rios perenes
Calcanhar farol mais alto
Da América natal.



Mensagem do Presidente da Fundação José Porto Filho, Ivanildo Penha, no encarte do CD:

A Fundação José Porto Filho oferece à população de Touros e aos seus visitantes uma coletânea de músicas que, ao longo deste século acompanharam as pessoas desta terra nas suas alegrias, tristezas e momentosde devoção.
Este trabalho é mais uma ação da Fundação no sentido de preservar a memória de nossa terra, pois um povo que não tem memória é um povo que não tem história, um povo que não tem passado é um povo que não terá futuro.
Queremos agradecer aos familiares dos autores já falecidos e àqueles que deram sustentação financeira a este trabalho, pois sem este apoio decisivo este sonho de vinte anos agora não se tornaria realidade.

APOIADORES: Prefeitura Municipal de Touros, Gráfica Santa Maria, Somatec, Farias Auto Posto.
 
 

domingo, 21 de março de 2010

LEMBRANÇAS DO TERROR-Miranda Sá


Henrique Miranda Sá Neto, um menino que presenciava os pais discutirem os problemas políticos do Brasil dentro de casa, acompanhou o fim da 2ª Guerra Mundial, o fim da ditadura Vargas (1937-1945) e a redemocratização. “Não somente meu pai era um homem de formação, primeiramente positivista e depois socialista. O que me levou a acreditar no socialismo e ir buscá-lo, e tive a feliz coincidência de ser vizinho do Partido Comunista, que foi para a legalidade naquela época”, esclareceu.

Nessa fase vai para o ginásio, influenciado por essas idéias; participa das lutas no grêmio estudantil da escola, reforçado pelo idealismo do pai, que chegou a dirigente do partido. “Com a denúncia do stalinismo, a minha decepção com o culto da personalidade, do partidão, me levou a procurar outros caminhos. Eu fiquei meio tonto, mas precisava levar adiante os meus ideais. Encontrei, primeiramente, o Partido Socialista, onde fundei a juventude socialista. O PSB de João Mangabeira”, justificou.

Em dezembro de 1959, passou a ser editorialista do jornal “Correio da Manhã” e foi convidado para montar o jornal “Evolução”, na Paraíba. Em seguida passa a ser correspondente do jornal, “A União”, sediado em João Pessoa. Nessa época manteve a militância no Partido Socialista, com um trabalho ligado às Ligas Camponesas, de Francisco Julião, e ao movimento estudantil.

No período da renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, Miranda foi preso, por 24 horas, em Fernando de Noronha e depois transferido para o 15º Regimento de Infantaria, em João Pessoa, o 15ºRI. A liberdade chega no 7 de setembro de 1961, em que João Goulart foi empossado como presidente.

De Campina Grande, retorna para o Rio de Janeiro e ocupa a função de Oficial de Gabinete do Ministro da Justiça de Goulart, João Mangabeira.

Em 07 de maio de 1964, se apresenta aos militares, e fica preso por 112 dias, entre Campina Grande, João Pessoa e Recife.

O jornalista, aluno da Faculdade de Economia, foi expulso, juntamente com o reitor da Universidade da Paraíba, Mário Moacir Porto, e o diretor da escola, Cléber Cruz. Ambos (Mário e Cléber) tinham sido condecorados com a medalha da Federação Internacional da Juventude, pelo pioneirismo em dar representação de um terço, aos estudantes, nos Conselhos Universitários.

Mantinha um emprego, obtido por concurso, no Instituto de Aposentadoria dos Industriários – IAPI, como tesoureiro, e ao chegar em João Pessoa foi novamente detido pelo Centro de Informações da Marinha - CENIMAR. Ao prestar depoimento aos militares, Miranda foi ameaçado. “O capitão-tenente da Marinha foi de uma franqueza extraordinária comigo. Ele disse: olha, você não tem jeito não; você vai perder seu emprego, vai ser preso e se você puder escapar, escape”, desabafou.

De volta ao Rio de Janeiro, o clima político inviabilizou o trabalho no jornalismo. Sá Neto foi trabalhar em uma rede hospitalar, fruto de um curso em administração hospitalar, incentivado por um médico amigo; ficou trabalhando durante dois anos nessa área.

Soube que o jornalista Milton Coelho da Graça, dirigente, à época, da Editora Abril e responsável pela edição da revista “Intervalo” (revista de fofocas de televisão) estava procurando um jornalista, com o perfil de Miranda, para dirigir a revista. A perspectiva de voltar ao jornalismo, fez o militante ir para São Paulo, em 1972.

A partir do trabalho em São Paulo, retorna à militância na trincheira socialista e nos movimentos de redemocratização do Brasil, que agiam na clandestinidade.

A sua terceira prisão foi no final da década de 70, em que um grupo paramilitar colocou uma bomba que explodiu no banheiro da Associação Brasileira de Imprensa – ABI. Quando soube do ocorrido, Miranda partiu para a sede da ABI, já que era conselheiro da entidade, e foi pego com um panfleto do Comando de Caça aos Comunistas – CCC, dos muitos que estavam espalhados pelo chão, responsabilizando o Comando pelo atentado. Pediu a um dos fotógrafos presentes que fotografassem o panfleto para publicação. Preso na hora e liberado após a explicação do que havia acontecido, foi para casa. Ficou surpreendido com as pessoas batendo na porta do apartamento dele, perguntando se estava vendendo um carro lá embaixo. Realmente tinha o carro para vender. Desceu, jogaram um saco na cabeça dele, seqüestraram e levaram para um lugar que até hoje não consegue identificar. Ficou preso durante 12 horas.

Depois de toda essa tempestade, Miranda segue para Caracas, Venezuela, para representar a ABI em um Congresso Internacional de Jornalistas. Ao chegar ao aeroporto Galeão/RJ, depois do check in, foi levado por militares; recebeu voz de prisão por subversão. Estava com uma autorização do chefe da Casa Civil da Presidência da República, o general Golbery do Couto e Silva, conseguida por Pompeu de Souza, representante da ABI, em Brasília. Na época, só se saía do Brasil com um depósito financeiro antecipado, ou autorização oficial.

Ficou fora do Brasil, com medo de retornar, fazendo conferências sobre a realidade brasileira. Partiu para a Europa, através da Federação de Transportes e Comunicação da Bélgica, e fez um curso de comunicação na Alemanha.

Após um exílio de nove meses, chegou ao Brasil sem perspectiva e procurou a Cooperativa dos Jornalistas do Rio de Janeiro – COOPIM. A Cooperativa estava precisando de alguém para ser o responsável pelo novo projeto editorial da “Tribuna do Norte”, com a inovação da impressão em offset. Foi assim que Miranda veio para Natal, convidado por Aluízio Alves, em 1979; passou dois anos e alguns meses na “Tribuna do Norte”.

Através da amizade com João Batista Machado, Assessor de Imprensa do prefeito de Natal, José Agripino Maia, ficou na Assessoria de Imprensa da Prefeitura; depois no Governo do Estado.

Nesse período fundou o semanário Jornal de Natal, juntamente com o jornalista Airton Bulhões e outros companheiros, e continuou na atividade jornalística.

A militância política em Natal, foi fruto da amizade com Leonel Brizola, no exílio. “Brizola foi um dos mais humanos líderes da minha geração”; outro, é o atual Ministro da Defesa (2006), Waldir Pires, com quem tive oportunidade de morar”, revelou.

Fundador do Partido Democrático Trabalhista – PDT, no Rio Grande do Norte, foi candidato a senador em 1986, na chapa do Dr. Aldo da Fonseca Tinoco, o candidato a governador.

Posteriormente foi candidato a vereador e indicado pelo PDT para o cargo de Coordenador de Administração e Editoração do Departamento Estadual de Imprensa – DEI – na administração Wilma de Faria. “Fui indicado pelo meu partido para a Imprensa Oficial; o meu partido rompeu com Wilma e eu apresentei uma carta a ela, entregando o cargo. Ela me manteve e eu estou até hoje afastado do partido e servindo ao governo Wilma, onde me sinto muito à vontade, concluiu”.

sábado, 13 de março de 2010

Dia da Poesia-Razão de um Ato


Em homenagem a este dia da poesia, 14 de março, o poema Razão de um Ato, de autoria de Iúri de Andrade, meu amigo e parceiro musical, morto na década passada. O poema foi musicado por mim e apresentado publicamente na apresentação musical "Navegando Pela Vida", Teatro Jesiel Figueiredo, no Projeto Espaço Aberto da Prefeitura de Natal, dia 03 de agosto de 1987.


Razão de um Ato


Autor: Iúri de Andrade

Se a memória vaga não voltasse à boca
E o fio da faca não cortasse a corda
E o sentido solto de uma fraca marcha
Não voltasse a tona e não gastasse a sola

E os meninos soltos no pátio da escola
E as crianças secas na calçada imunda
E os velhos fracos de visão profunda
Só inspirassem cantos de fé vaga e tola

Se o temor a morte não morresse um dia
Se a arte poética não se levantasse
Não mostrando véus, mas que o real mostrasse
Fazendo da vida mais que uma poesia

Se o retorno a vida não se traduzisse
Pela volta à luta de cabeça erguida
Mesmo tendo estado num canto escondida
A fúria da gente por anos ou vidas
Ou por um momento que nos confundisse

Se a nossa história não tivesse lógica
E o fim do medo não estivesse explícito
Não seria lógico adotar uma ótica
Nem lutar por nada o fim seria isto.


A Bandeira e o Hino de Touros

Neste mês em que o município de Touros comemora 175 anos de emancipação política, conheça um pouco da história da bandeira e do hino oficial do município.


Por iniciativa do Juiz de Direito da Comarca de Touros, Dr. Orlando Flávio Junqueira Ayres, foi criada, durante a administração do Prefeito José Joaquim do Nascimento, a bandeira do nosso Município, no dia 23 de março de 1970.

A bandeira de Touros é um retângulo todo azul, tendo no centro uma grande estrela branca onde se encontra o escudo com a representação das principais riquezas municipais e o farol iluminando a noite com o seu lampejo. Abaixo do farol dintingue-se uma jangada representando a primitiva atividade econômica do município e, com mais propriedade, a faina diuturna do pescador.

Touros vem de incorporar ao seu patrimônio cultural algo de que se ressentia e lhe faltava: um hino cívico, bonito, melodioso, e capaz de agradar e empolgar. Criação de Ivanildo Cortez de Souza, médico, professor universitário e compositor conterrâneo, o Hino de Touros foi por ele apresentado às autoridades e ao povo durante as festas comemorativas do 163º aniversário de emancipação política do município, ocorridas a 27 de março de 1998.

Nilson Patriota – Livro: Touros, Uma Cidade do Brasil, pág. 103.


Foto:www.observatorio.nesc.ufrn.br

Hino de Touros


Autor: Ivanildo Cortez de Souza

Quando o índio viu um barco
Navegando em mar profundo
Era um bravo conduzindo
O seu Marco ao Novo Mundo

Foi nascendo assim um grande povo
Que mais tarde ao negro uniu
Transformando tudo em mil amores
Nesta esquina do Brasil.

Touros, coração querido
Porto dos antigos
Explosão de cores
Como o verde do teu mar
Ou o teu céu azul
Da cor da tua bandeira

Na alegria ou na dor
Verás que o nosso amor
É puro e verdadeiro!

Das tuas pedras
As águas dos teus rios
Dos teus campos ao luar
És prá mim
A terra mais amada
Desta terra potiguar!

És farol que iluminas
Viajantes no seu rumo
Tens na tua juventude
Teu tesouro mais fecundo

Quando em mim a vida for embora
Sei que nada foi em vão
Levarei a mais doce ventura
De ser filho deste chão.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Homenagem aos 400 anos da cidade de Natal

Em 1999, ano em que a cidade em que nasci, Natal/RN, completou 400 anos, resolvi prestar a minha homenagem de forma anônima, mas significativa, através desta canção:

Foto: Priscila Heise - site da FJA


Passando a Ponte


Letra e Música: Luiz Cláudio Penha da Silva


Passando a ponte, eu me vejo envolvido
com o passado, com o presente,
com a história do lugar
A ponte inglesa, a Cidade, a Ribeira
a Redinha, a fortaleza
e as histórias de além-mar

O por do sol, especial
A lua cheia, isso é Natal
Terra de Papa, jerimum é natural
Por trás dos montes,
Ponta Negra, sem igual

Subir o morro, que beleza
Lembrar cantando
desse chão memorial

quinta-feira, 4 de março de 2010

EMOÇÕES RIMADAS - José Porto Filho


A Fundação José Porto Filho, criada em janeiro de 1989, na cidade de Touros, publicou a 2ª edição do livro do poeta, “Emoções Rimadas”, em dezembro de 1990. A primeira edição é de 1941.

A edição foi um esforço conjunto da instituição cultural, da Prefeitura Municipal de Touros, com o apoio do Jornal de Natal.

BREVES NOTAS SOBRE PORTO FILHO
José Porto Filho nasceu em Touros, em 31 de agosto de 1887. Foram seus pais José Martins de Vasconcellos Porto e Isabel Emiliana Porto. Parte de sua mocidade passou-se em Belém do Pará, onde foi funcionário da Estrada de Ferro Belém-Bragança, ao tempo em que prestou alguma colaboração à Folha do Pará. Em 1917, casou-se com Maria Alves de Souza Porto e como representante de pleito de sua classe junto ao Governador do Estado, fez-se notar pelo então Governador Lauro Sodré que elogiou os dons oratórios e as sugestões pacíficas preconizadas pelo orador.

Em 1921, transferiu-se para Recife, tendo logo ao chegar àquela cidade, perdido a primeira filha que lhe nascera em Belém. Em Recife, nasceu Maria Isabel (22.11.1921), que passou a ser a filha mais velha durante várias décadas, vindo a falecer no Rio de Janeiro em fevereiro de 1988.

Voltando a Touros para ocupar-se de um cartório (que injunções políticas lhe arrebatariam anos depois), Porto Filho era um doublé de professor e pequeno comerciante e recordo-me de suas passagens por Galinhos e Rio do Fogo. Nessa época nasceram-lhe Eurídice (Dicinha) em 25.11.1923 e José Erasmo (Zequinha) em 02.06.1925. Em 1932, por ato do Interventor Federal no Rio Grande do Norte, foi nomeado Prefeito de Touros, onde realizou profícua administração, tendo permanecido no cargo até fins de 1935, quando a Aliança Liberal dos seus amigos Mário Câmara e Café Filho perdeu as eleições.

Porto Filho transferiu-se para Recife em janeiro de 1936, sendo maldosamente confundido pelos inimigos como simpatizante da Aliança Nacional Libertadora, de inspiração comunista e que sublevou o país em novembro de 1935. Em Recife, com a ajuda de amigos, inclusive Joaquim Cardoso Magalhães Barata, Governador do Pará e com o qual se correspondia havia tempos, foi trabalhar no Fomento Agrícola na cidade de Garanhuns, onde também foi colaborador diário do “Garanhuns Diário” e teve oportunidade de editar o seu “Emoções Rimadas”.

Quase no final dos anos 50, veio juntar-se à família no Rio de Janeiro, quando passou grande parte do seu tempo visitando abrigos de velhos e desamparados, coisa que se coadunava perfeitamente com seu espírito caridoso e benfazejo.

Ao passar umas férias em São Lourenço, foi acometido de um problema abdominal, vindo a falecer de um ataque de uremia no Hospital de Ipanema em 03.03.1958. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista com a presença de um grande número de amigos e de uma Guarda de Honra de Atletas fardados do Clube de Regatas Vasco da Gama, do qual era diretor.

Seus restos mortais repousam hoje no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, num belo mausoléu mandado construir por Maria Isabel, que tencionava reunir ali todos os da família que partissem para uma melhor.

Rio de Janeiro, dezembro de 1990.
José Erasmo Porto



No prefácio à primeira edição, o prefaciador diz: O livro de Porto Filho revela um esforço, humilde mas nobilitante, de escafandrismo espiritual: o autor mergulha no passado de sua vida, vida em que, de par com os lances amargos da experiência, perpassa um sopro de ternura humana, para expor ao leitor todo o volume da sua saudade, da sua veneração quase fetichista pela terra natal.

Nota-se, na poesia simples e despreocupada de José Porto, um apego quase panteísta à natureza, a sedução material dos objetos, que ele decanta sem artificialismo e sem enfado”.

Garanhuns, Dezembro de 1940
Heli Leitão

As poesias mais conhecidas de José Porto Filho, publicadas no livro “Emoções Rimadas”, são algumas das que foram musicadas pelo próprio autor, como Ode a Touros, Adeus a Touros, Praieira de Touros, Galo de Campina, Luar de Touros e Parracho Seco, que o leitor pode desfrutar abaixo:


ODE A TOUROS
(Musicada)

Vou cantar a minha vila, que cintila
Sob o clarão do luar...
O MACEIÓ desce encantado e prateado
Em busca do verde mar,
Vagaroso com ciúmes
De seus constantes queixumes
Que ele está a murmurar.

ESTRIBILHO
Touros, meu berço querido
Terra Santa de meus pais:
Não me deixes esquecido...
Touros, meu berço querido,
Escuta, escuta os meus ais!

 
Lembro ouvir o gorjeado vário do canário
Nas claras manhãs de estio.
Sobre o leque dos coqueiros altaneiros
Retratados pelo rio...
Como é lindo, donairoso
Quando o cantar mavioso,
Ensaia o seu enxurrío.

Ao romper das madrugadas as jangadas
Vão singrando à pescaria
Conduzindo os pescadores, sem temores
Da fúria da ventania...
E nesse labor insano
Dominam, enfim, o oceano,
Com arrojo e valentia.

À tardinha, em horas mortas,
Quais gaivotas,
De velas pandas ao vento,
As jangadas que regressam, se apressam
Ao local do encalhamento...
Depois, nas choças de amores,
Esses bravos pescadores
Não soltam um só lamento!



ADEUS A TOUROS
(Musicada)

Vou partir muito tristonho
De minha terra querida...
Adeus meu doirado sonho
Meu coração, minha vida!

ESTRIBILHO
Adeus, ó minha esperança
Minha glória, minha luz...
Conservarte-ei na lembrança
Ó vila do Bom Jesus.


O meu berço, onde nasci
Por entre risos e flores...
Por ti, agora, sofri
Os mais cruéis dissabores.

Não te maldigo, querida
Terra do meu coração:
Tu não me abriste a ferida
De tão negra ingratidão...

Partir, assim, é bem triste!
É acabar com a existência...
Ai! Minha vida consiste
Em sofrer e ter paciência.

Adeus coqueiral virente
Adeus campos, adeus mares:
Vou partir saudosamente
Todo cheio de pezares!


PRAIEIRA DE TOUROS
(Musicada)

Escuta, linda praieira:
Por ti morrerei de amor...
Confia que é verdadeira
A paixão do pescador.

ESTRIBILHO
Praieira de Touros:
Vem ver minha flor,
Os ricos tesouros
Do teu pescador.


O mar é calmo e sereno
As ondas são bonançosas,
Vem molhar teu pé, pequeno
Nas maretas espumosas.

Minha formosa praieira
Vem ver o teu trovador,
E esta jangada veleira
Em que vai teu pescador.

Depois, ó praieira minha!
Dá-me um beijinho de amor,
Até que volte, à tardinha
O teu bravo pescador.

Touros, 1927


GALO DE CAMPINA
(Musicada)

Mal despontava a aurora matutina
Todos os dias vinha me acordar
Um inspirado galo de campina
Que me enleiava com o seu cantar!

ESTRIBILHO
O passarinho é o símbolo do poeta...
As suas mágoas sabe relatar...
Quando ele sente alguma dor secreta:
Tristonho canta; não sabe chorar!


Hoje, no seu cantar foi diferente
Entoando tristonhos estribilhos...
Pensei, saudoso, em minha esposa ausente
Tive desejo de beijar meus filhos!

Meu alado poeta sonoroso
Imploro-te, por Deus, por caridade:
Não cantes mais assim, tão piedoso
Que me partes o peito de saudade!



LUAR DE TOUROS
(Musicada)

Em noites de luar, em minha vila
A linda natureza se retrata,
E o clarão que do além tanto cintila
Convida o trovador à serenata!

ESTRIBILHO
Não pode haver luar, assim tão belo
Como o luar de minha terra amiga...
Cada coqueiro ensaia uma cantiga
No farfalhar do seu leque singelo.

 
O céu se torna transformado em prata
E a terra cheia de ofuscante luz,
Quando o clarão da lua se desata
Em jorros na matriz do BOM JESUS!

Lua branca, que sonhas pelo céu
Nesta ânsia louca de eternal jornada,
Quando das nuvens vais rompendo o véu
Enches de luz a minha terra amada!



PARRACHO SECO
(Musicada)

“Parracho Seco”, de águas aniladas
És encanto de um povo bravo e forte
Tens a magia de lendas encantadas
És o primor dos mares deste Norte.

ESTRIBILHO
Em frente a Costa – branca e altaneira
Orlada de coqueiros verdejantes,
Onde se adora a Santa Padroeira
A milagrosa Mãe dos Navegantes.

 
Tens um lençol de linda maravilha
No panorama de tuas serras pretas:
Águas que lembram a cândida baunilha
Águas que imitam a flor das violetas.

De ti nos afastamos com saudade
Levando-te presente na lembrança,
Porque tu dás prazer à mocidade
Parracho verde – lago da esperança.

quarta-feira, 3 de março de 2010

LEMBRANÇAS DO TERROR-Aldo Tinoco



Aldo da Fonseca Tinoco era estudante do Atheneu Norte-rio-grandense quando despertou para a luta e participação política, defendendo a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial (1939-1945), contra o Eixo do nazi-facismo (Alemanha, Itália). “Nós acreditávamos que o nazismo era um grande retrocesso para a humanidade. A democracia a gente entendia como a participação do povo em benefício do povo, e não do privilégio de uma classe. Então, como estudantes nos engajamos na luta da esquerda, porque achávamos que a esquerda era a grande esperança para a humanidade”, avaliou.

Após a conclusão do segundo grau, ingressa no curso de Odontologia, em Fortaleza, já que a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, só foi criada em 1958. Na mesma época, entra para o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Ao concluir o curso de Odontologia, parte para o curso de Direito, em Alagoas.

O professor Aldo Tinoco sempre teve como referência política a bandeira nacionalista. Mesmo com o partido comunista na ilegalidade, continuou a participação em outras agremiações. “Getúlio foi esta grande liderança, no nosso entender, pelo fortalecimento econômico do país. A luta da Petrobrás e daí, hoje, a Petrobrás, essa potência, foi conseqüência daquelas lutas do povo e Getúlio à frente. Era a intervenção do Estado no campo do desenvolvimento econômico”, disse.

Na década de 50, pertencendo ao Partido Social Progressista (PSP), de João Café Filho, sai candidato a deputado estadual e fica na condição de suplente. Nesse período assumiu várias vezes o mandato, já que os deputados viviam de licença.

Em seguida entra para o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), onde se lança candidato a deputado federal e mais uma vez fica na suplência. “Militei no PTB com Clovis Mota. O PTB de Jango e Brizola; não esse PTB que está aí. Fui secretário geral do partido, aqui no Rio Grande do Norte, e Clovis Mota era o presidente, afirmou”.

Nos anos 60, Tinoco, na condição de professor universitário, era aluno da pós-graduação, na especialização em saúde pública, da Universidade de São Paulo – USP e teve que retornar ao Rio Grande do Norte, em função de um Inquérito Policial Militar – IPM, sob a orientação dos policiais pernambucanos Carlos Moura de Morais Veras e José Domingos da Silva, responsáveis pela Comissão de Investigações, instituída pelo governo estadual.

Aldo foi preso e passou 04 meses no 16º Regimento de Infantaria, 16ºRI. Do Regimento foi transferido, juntamente com o ex-deputado Floriano Bezerra, Djalma Maranhão e Luis Maranhão Filho, para a ilha de Fernando de Noronha, mesmo com um habeas-corpus já concedido pela justiça militar. “Quando eu tava preso no quartel os policiais não deixavam a gente abraçar os filhos”, revelou.

“Na quase escuridão daquele amanhecer, desconfortavelmente acomodados nos bancos de um caminhão militar, os presos conjeturavam sobre seus destinos. Levados ao aeroporto pelo capitão Lacerda, certificaram-se de que seriam transferidos para prisões em outros Estados ou para a ilha de Fernando de Noronha. Admitiam, também, com muita preocupação, que poderiam ser jogados do avião para a morte no mar, como se comentava que já havia acontecido com alguns prisioneiros políticos”. (GALVÃO, 2004 a, p.184).

Preso por mais de 30 dias no quartel do Exército, era tratado com respeito. Saiu da prisão, em Fernando de Noronha, com a chegada do general Ernesto Geisel, então chefe da Casa Civil do Presidente da República, que foi verificar a situação dos presos políticos. Aldo e o governador Miguel Arraes foram para o Recife, no mesmo avião com o general.

O professor, posto em liberdade, em vez de retornar a Natal fugiu para o Rio de Janeiro e ficou por um período na clandestinidade. “Aqui soltavam um preso e prendiam de novo. Sabendo disso não voltei pra cá e a casa,aqui, já estava cercada. O habeas-corpus que eu tinha era do Superior Tribunal Militar; não valia nada”, concluiu.

Terminado o processo político-militar, com duração de aproximadamente quatro anos, incluindo prisão domiciliar, o professor Aldo voltou para a conclusão do mestrado e foi convidado pela USP para ser professor. Passou trinta anos, entre o período de mestrado, doutorado e livre-docência; aposentou-se como professor da USP, onde fundou a disciplina Direito da Saúde, que após a sua aposentadoria ficou sob a responsabilidade da professora Sueli Dallari, esposa do jurista Dalmo Dallari. “Eu saí titular da USP. A revolução me prestou esse benefício”, afirmou.

De início, Aldo não demonstrou interesse em ficar definitivamente na USP; queria voltar para viver e trabalhar em Natal. Mas, como a cidade era pequena e, diante do momento político, resolveu ficar em São Paulo. “Aqui, a gente, naquela época, vivia uma situação estranha. Você ia pela calçada, vinha um amigo; ele já mudava pra não falar com a gente. A gente era assim, meio marginalizado. E a turma sempre de olho como se a gente fosse perigoso; era só uma luta de idéias”, desabafou.

A sua decisão de ficar em São Paulo permitiu levar a esposa e os filhos, que tiveram toda a sua formação instrucional em escolas e universidades paulistas.

Com a redemocratização, em meados da década de 80, e a criação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), sob a liderança de Leonel Brizola, Tinoco saiu candidato a governador do Rio Grande do Norte, em (1986), pela sigla Brizolista, disputando a vaga com Geraldo Melo, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e João Faustino, do Partido da Frente Liberal (PFL).

Em 1996 foi candidato a prefeito de São Gonçalo do Amarante, cidade em que nasceu, pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN).

Apesar de estar aposentado, o professor Aldo Tinoco é constantemente convidado para bancas examinadoras de teses, dos alunos da Universidade de São Paulo. “Participei de muitas bancas no país todo; do Rio Grande do Sul ao Amazonas. A USP permitia isso. Aqui, eu participei de algumas bancas, mas, agora, professor aposentado e velho, né... Os velhos são superados”, desabafou.

“Do alto dos seus oitenta anos”, como diz a canção, revelou a decepção com a maioria das siglas partidárias. No seu ponto de vista são siglas de aluguel que não apresentam um projeto de desenvolvimento para o Brasil.

Hoje se dedica a criação de minhocas, produção de rapadura e mel de engenho e desenvolve a apicultura (criação de abelhas) em uma propriedade no município de Macaíba, para onde se desloca diariamente.

O professor encerrou a conversa com descontração: “Na USP eu fui chefe de departamento eleito e reeleito. Hoje, aqui em Macaíba, eu sou “Seu Aldo das Minhocas”, porque eu crio minhocas na fazenda e sou pioneiro, aqui, na criação de humo de minhocas”.