quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

"Prepare o seu coração..." Theo de Barros e Geraldo Vandré


         Theo de Barros
Com o verso título deste artigo, os compositores Geraldo Vandré e Theo de Barros iniciaram a canção “Disparada”, um clássico da música popular brasileira, imortalizado na voz de Jair Rodrigues.

A música foi classificada em primeiro lugar no Festival de música da TV Record, no ano de 1966, empatada com a “Banda”, de Chico Buarque de Holanda.

Geraldo Vandré, nascido na Paraíba, ficou conhecido com a canção Caminhando (Pra não dizer que não falei de flores), que ganhou o segundo lugar no Festival de Música da TV Globo, no ano de 1968. Com a promulgação do Ato Institucional nº5, o famigerado AI-5, Vandré foi exilado, morando em vários países da Europa e ficando quatro anos fora do Brasil. O artista ficou identificado como o “mito” de resistência à ditadura.

Theo de Barros, nascido no Rio de Janeiro, filho de Theophilo de Barros Filho, ex-diretor musical das Emissoras Associadas, Rádio e Televisão Tupi e de Maria de Lourdes Patriota, natural da cidade de Touros/RN, é compositor conhecido nacionalmente e parceiro de vários autores, dentre eles, César Camargo Mariano e Paulo César Pinheiro, além de produtor de jingles para propagandas comerciais de empresas como o Banco do Brasil, Transbrasil e Caixa Econômica e trilhas sonoras para filmes, novelas e peças teatrais.

O músico gravou o seu primeiro long play aos 37 anos, com o título “Primeiro Disco”, em que além da canção “Disparada”, está a música “Festa de Touros”, com gravação apenas instrumental e a seguinte referência no encarte: "Touros é uma vila de pescadores no Rio Grande do Norte, onde sua mãe nasceu. Durante o mês de dezembro realiza-se a festa do “Bom Jesus dos Navegantes”, com folguedos, procissões, quermesses e cantadores. O nome Touros se deve a um pontal com cabeça de boi que lidera a sua praia inesquecível."

No ano de 2004, a música "Festa de Touros" foi regravada no CD Theo de Barros, lançado pelo selo Maritaca e interpretada por Tatiana Parra.

A mãe de Theo saiu de Touros para o Rio de Janeiro na década de 40, conheceu o pai do compositor e constituíram família. Na sua adolescência, Theo de Barros costumava viajar para a referida praia, em suas férias escolares; atualmente reside na cidade de São Paulo.

Para as novas gerações de tourenses e norte-rio-grandenses é importante que tenham conhecimento de fatos e registros como esses, na história da Música Popular Brasileira.

Do chão de areia alva em que o mar jorra as suas águas, na Ponta do Calcanhar, a luz da maternidade permitiu a parceria que imortalizaria uma das mais belas canções da nossa música: “Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar”. Eu venho lá do sertão...”.

PS.

Festa de Touros
Letra e Música: Theo de Barros


Povo Canta
Bom Jesus tá chegando é santa
Maré Alta o trouxe a tanta
Duna clara a chamar corrente
Navegante atendeu
De um olhar Bom Jesus nasceu
Espanta!
Ladainhas no altar do vento
Vem nos anunciar
Vai chegar na manhã de sol

Flores livres
Flutuando
É o andor passando
Pouca ponte prá tanta gente
Penitentes, parentes, crentes...
Levitando outra vez
Vai entrando pela Matriz,
Giganta
Colhe a fé que se movimenta
Esmagando calangos, plantas
Sombreando o sol

Avexe! Ceiça, Ivonete, Lourdes e Guiomar
O sino já dobrou a reza tá prá começar
Beatas a gemer canções
Profissionais de procissões
Depois da missa tem quermesse e prá terminar
Da festa, vamos prá seresta até o sol raiar
Do mar...



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS DO TERROR-Rinaldo Barros


Rinaldo Claudino de Barros, natural do Recife/PE, apostou no estudo e na vida acadêmica como condição para mudar a realidade social e econômica em que havia nascido. “Minha mãe, empregada doméstica semi-analfabeta, tinha a quarta série primária, só. Então, a análise que eu fazia era: ou eu estudo, ou não tem jeito”, avaliou.

No final dos anos cinqüenta, com idade de 14 anos, Rinaldo trabalhava o dia todo e estudava à noite. Durante os finais de semana participava dos Clubes Literários, que eram comuns durante a administração de Miguel Arraes. Nessa convivência nos Clubes Literários conheceu os ideais socialistas; destacou-se como uma das lideranças estudantis e foi eleito presidente do grêmio escolar. Aos 17 anos foi recrutado para a juventude do Partido Comunista Brasileiro – PCB. “Era um sobrevivente da classe trabalhadora que tava tentando ascender socialmente, pela via da educação. Parece que quanto mais dificuldade o ser humano tem que superar no início de sua vida, parece que vai fortalecendo pra você enfrentar desafios”, esclareceu.

Contraditoriamente, Barros foi aprovado em concurso para trabalhar em um banco norte-americano, o Citibank, já que além da opção política tinha que lutar pela sobrevivência. “Naquela época o sentimento nacionalista era muito exacerbado. Até pasta de dente de uma multinacional você não usava”, falou.

Terminado o segundo grau, fez cursinho para Engenharia e entrou para a diretoria do sindicato dos bancários como forma de superar o fato de ser empregado de uma empresa multinacional. O emprego propiciava aos funcionários um curso regular de inglês, após o expediente. “O que foi muito bom para o mestrado e doutorado posterior”, disse Rinaldo.

Em 1965, um ano depois do golpe militar, veio a primeira prisão e a demissão do banco. Rinaldo distribuía panfleto da luta bancária dentro do banco; passou uma semana na prisão, saindo para responder processo em liberdade.

Trinta dias após ficar em liberdade, veio para Natal com um amigo da mãe e proprietário de uma livraria. O que lhe garantiu o emprego de vendedor de livros na capital potiguar, além do apoio do Partido Comunista, já que trazia uma indicação da militância.

Na tentativa de confundir os militares, optou por escolher a área das Ciências Sociais para estudar. Foi aluno da primeira turma (1966) da Faculdade de Sociologia e Política da Fundação José Augusto.

A luta política passa a ser na faculdade e quando chega o Ato Institucional nº5, o AI-5, de 13 de dezembro de 1968, Rinaldo, presidente do diretório estudantil, não chega a ser preso, mas cassado pelo Decreto-Lei nº 477, de 26 de fevereiro de 1969, que proibiu a continuidade dos seus estudos por três anos. O jovem líder convocou novas eleições para o diretório estudantil, mas o diretor da faculdade, padre Itamar de Souza, o orientou a indicar um substituto escolhido por ele (o padre). Barros não concordou com a proposta do diretor e foi vítima de um inquérito administrativo.

Proibido de estudar, dedicou-se exclusivamente à luta política. Em 1972 houve um racha ideológico dentro do Partido Comunista Brasileiro - PCB, onde foi criado o Partido Comunista do Brasil, o PC do B. O PC do B dividiu-se em duas alas, uma das quais o Partido Comunista Revolucionário, o PCR, tendo Rinaldo como dirigente. Um cidadão, o qual Barros não quis citar o nome, entregou todos os companheiros que participavam da luta política.

Em março do mesmo ano, o estudante estava como empregado do CETENE, órgão ligado ao Ministério da Educação e se encontrava, a serviço, em São Paulo. Foi procurado pelos militares, no hotel em que estava hospedado, e passou alguns dias sendo torturado pela Operação Bandeirantes, OBAN, lançada oficialmente em junho de 1969, e responsável pela repressão pelos meios mais bárbaros, sob a coordenação do II Exército, em São Paulo.

O jovem foi transferido para Recife, algemado, em avião de carreira, e sofreu 28 dias de tortura. “Eu fiquei rebentado; tenho seqüelas na coluna, tenho costela quebrada, tenho radiografia disso tudo. Eu tinha certeza que ia morrer. Já que eu vou morrer, vou manter a dignidade. Era uma tentativa de suicídio: quando eles me batiam eu partia pra cima, aí eles batiam pra valer e eu desmaiava”, desabafou.

Depois desse período foi para o 16º Regimento de Infantaria, o 16ºRI, em Natal, e ficou durante seis meses; em seguida para a Colônia Penal João Chaves, na Zona Norte de Natal, com duração de um ano e seis meses, na companhia de François Silvestre, Albano Cruz, Maurício Formiga e outros companheiros.

Rinaldo falou que nessa época a polícia escondeu Rubens Lemos na biblioteca da Colônia Penal e os companheiros descobriram. “A gente tinha uma espécie de cumplicidade com a guarda e... nesse dia de Rubens, assim que ele chegou, um soldado veio dizer a gente: chegou um colega de vocês aí e tá escondido da família. Aí eu fui prá grade da biblioteca, ele nunca se esqueceu disso; ele fez até artigo sobre isso. Eu chamei, Rubens; ele chega criou alma nova. O mesmo soldado que veio, quando saiu da guarda, eu fiz um bilhete pra esposa, porque o plano da polícia era desaparecer com ele”, afirmou.

Em março de 1974, Rinaldo saiu da prisão para concluir o curso, segundo ele o mais longo da faculdade, já que concluiu em oito anos. Foi para São Paulo fazer mestrado em Sociologia do Trabalho, na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, em um período de 02 anos e seis meses.

Foi fundador da UNIPEC, hoje Universidade Potiguar, UNP. Em 1987 foi aprovado em concurso para professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN.

A partir de 1996, ocupou cargos de pró-reitor de planejamento e de administração. Nesse mesmo ano foi fazer doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, na Universidade Federal do Paraná – UFPR.

“Depois que o PCR foi dizimado, eu fiquei um tempo só estudando e trabalhando. Aí o PSB, que era clandestino, reorganizou-se em 85, com a abertura. Laércio Bezerra organizou e fez algumas reuniões na casa dele, com quatro, cinco pessoas, aí eu me engajei”, disse Rinaldo.

De 1999 a 2000 foi Secretário de Administração e Planejamento da Prefeitura de Natal, na administração Wilma de Faria. De 2001 a 2004, assumiu a Presidência da Fundação Capitania das Artes – FUNCART.

Atualmente é professor de Antropologia, na unidade da UERN, Zona Norte, que tem os cursos de Direito, Turismo e Informática, além de ocupar o cargo de Diretor Científico da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte – FAPERN.

Na política partidária é responsável pela Cultura e Formação Política da Juventude do Partido Socialista Brasileiro – PSB.

“A gente chega a uma determinada fase da nossa vida que você recebe tanto da sociedade, que chega um ponto que você sente necessidade de dar, de devolver prá sociedade. Eu me sinto altamente privilegiado, apesar de tudo ter sido conseguido com muito esforço, muito sofrimento. Mas eu quero compensar devolvendo à sociedade aquilo que ela me deu. Esse é o sentimento que eu tenho”, finalizou Rinaldo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Entrevista com o interventor da Colônia de Pescadores de Touros

Filho natural de Touros, Gildenes Raimundo dos Santos, 30 anos, é funcionário público concursado da Prefeitura Municipal de Touros, lotado como Agente Administrativo na Secretaria de Tributação. Atualmente, além de interventor da Colônia de Pescadores Z-02, nomeado pelo Juiz da Comarca, Dr. Rivaldo Pereira Neto, é estudante do curso de Direito.



1 – O que levou a Colônia de Pescadores de Touros a estar sob intervenção atualmente?

Gildenes - Devido Ação Judicial (processo nº 158.09.000574-7) impetrada por associados pelo fato do presidente da Colônia, o Sr. Rafael da Silva Ferreira, não prestar contas do gasto do dinheiro da colônia; ter alterado o estatuto sem a presença do número mínimo de associados; não ter convocado nova eleição no prazo conforme estatuto, dentre outras irregularidades.

2 - Em que condições você encontrou a Colônia de Pescadores, com relação ao patrimônio da entidade, aos direitos dos associados e a representatividade junto aos pescadores?

Gildenes - Encontrei a Colônia de Pescadores em completo abandono. A mesma se encontrava fechada há vários meses. O patrimônio depredado. O veículo da entidade quebrado e abandonado à corrosão da maresia e do tempo. Muitas dívidas, inclusive com água, luz, telefone, o qual ainda se encontra cortado. Sem dinheiro em caixa, sem conta bancária. A Colônia incluída no SPC, SERASA e CADIM, impossibilitando dessa forma que benefícios sejam repassados à Colônia, e posteriormente aos pescadores. Muitos associados com seus benefícios atrasados ou impossibilitados de recebê-los. Em resumo: a Colônia está quebrada no fundo do poço!

3 – Como está sendo desenvolvido, no dia a dia, o seu trabalho como interventor?

Gildenes - Contratei duas pessoas para realizar o serviço de atendimento aos associados e estou constantemente nos órgãos e credores da Colônia buscando alternativas e soluções para regularizar a situação da Associação. Já estamos regularizando as pendências fiscais junto à Receita Federal, onde a mesma já estava com o CNPJ prestes a ser cancelado por falta de declarações obrigatórias desde 2003. Junto ao Banco do Brasil estou tentando reativar a antiga conta, pois a mesma está desativada desde 2004 por falta de movimento. E junto aos demais órgãos, estamos parcelando os débitos para que seja possível retirar o nome da Colônia do SPC, SERASA e CADIM.

4- Existe algum prazo, calendário a ser cumprido, quais as orientações para procedimentos e finalização do trabalho?

Gildenes - Não foi definido um prazo para conclusão dos trabalhos. Fui nomeado para gerir a Colônia e convocar as eleições para compor a nova diretoria assim que possível.

5 – Os associados estão participando de alguma forma do processo de intervenção?

Gildenes - Sim. As decisões mais importantes serão tomadas pelos próprios associados em Assembléias Gerais. Inclusive já foi convocada uma para o dia 11 de fevereiro.

6 – O que podem esperar os pescadores de Touros, com relação a todo esse trabalho de intervenção que está sendo realizado? Qual a sua mensagem para os associados?

Gildenes - Os pescadores e associados da Colônia podem esperar que ao final da intervenção receberão a instituição em condições ideais para funcionamento, com seus débitos saldados, com suas contas em dia, documentos organizados e adequadamente preparada para atender às necessidades dos pescadores. Espero que ao convocar as eleições para a nova diretoria, os associados elejam uma diretoria que seja a melhor para a Colônia: com pessoas capazes de realizar um trabalho transparente, honesto e que atenda aos anseios dos pescadores.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS DO TERROR-Mailde Galvão

1960, Djalma Maranhão, prefeito de Natal; Aluízio Alves, governador do Rio Grande do Norte.
Mailde Pinto Galvão, funcionária concursada do Departamento de Correios e Telégrafos é convidada pelo cunhado, Moacyr de Góes, Secretário de Educação, Cultura e Saúde da administração Djalma Maranhão, para dirigir a Diretoria de Documentação e Cultura da Prefeitura de Natal.
O trabalho da Diretoria de Documentação e Cultura-DDC era buscar a democratização da cultura, através de ações como as Praças de Cultura, com bibliotecas populares, jornais murais, quadras de esporte e parques infantis, espelhado na experiência desenvolvida pelo Movimento de Cultura Popular do Recife, buscando a integração da comunidade dos bairros. “... Não era por acaso que, nos bairros das Rocas e Quintas, os empréstimos de livros atingiam a média dos dois mil e quinhentos mensais, e as promoções culturais recebiam um público talvez nunca repetido. Os vencedores do golpe entenderam que, através da leitura nas bibliotecas populares, estimulava-se a preparação de guerrilhas, apavoraram-se com os livros nas mãos do povo e não aceitaram explicações nem defesa dos programas culturais realizados pela DDC”. (págs. 118, 119).
Após a decretação do golpe militar de 1964, com o apoio público ao presidente João Goulart e em defesa da democracia, o prefeito Djalma Maranhão e seus auxiliares passam a ser alvo de perseguições, prisões e torturas.
No dia 8 de abril, Mailde Galvão é presa na residência de uma irmã e levada por militares do Exército para o 16º Regimento de Infantaria. “Chegando ao quartel, conduziram-me ao primeiro andar, para uma sala de onde vinha saindo uma cantora de festas populares promovidas pela Prefeitura... A prisão de Luíza de Paula, uma jovem de vida simples, sem vinculações políticas nem participação na administração municipal, pareceu-me incrível e me senti participante de uma farsa surrealista... Iniciava-se o primeiro dos seis interrogatórios que respondi em diversas comissões de inquérito”. (pág.60).
Mailde, de formação católica, com vivência em colégio de freiras, em regime interno, nunca exerceu militância político partidária. Procurou ser uma mulher consciente dos problemas do seu tempo e voltada para os livros. “Djalma freqüentava a casa de Moacyr e conhecia Mailde pelas suas atividades literárias, o que não era muito comum naquele tempo, uma mulher que lia obras completas de autores e mais autores. Todo mundo conhecia isso e Djalma tinha essa admiração. É tanto que convidou Mailde, diversas vezes, para assumir essa diretoria e Mailde nunca quis porque ela nunca quis se meter com política, principalmente político que tinha fama de esquerda, como era a de Djalma, embora ela o admirasse”, expressou Cláudio Galvão.
Segundo Mailde, o governador, definido pelo apoio ao golpe, formou a sua Comissão de Investigações e contratou, no estado de Pernambuco, dois policiais especializados, a quem concedeu poderes absolutos e excepcionais. “Os policiais Carlos Moura de Morais Veras, com treinamento no FBI, nos Estados Unidos, e José Domingos da Silva, experientes e eficientes, usaram com muita competência, métodos semelhantes aos praticados pelos nazistas da Segunda Guerra Mundial”. (pág.32).
No dia 19 de junho, ao meio-dia, o motorista do Estado e o agente do Departamento de Ordem Pública e Social foram buscar Mailde em casa para prestar depoimento ao delegado Veras. “... Lembro que na sala deixei meus pais e uma irmã. Ainda ouvi o meu pai indagando para onde me levavam, mas o motorista não se dignou sequer a olhar”. (pág.150).
Após saírem da residência de Mailde Galvão foram buscar Maria Diva da Salete Lucena (professora do Atheneu norte-rio-grandense e do ginásio Municipal de Natal) que também foi convocada para prestar depoimento. Em seguida o motorista se dirigiu à casa da professora Margarida de Jesus Cortez, Diretora do Centro de Formação de Professores da Campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”.
Ao chegarem ao 16º RI já se encontrava aprisionada a universitária Maria Laly Carneiro. “... Sabíamos que muitos companheiros, entre eles Djalma Maranhão, Carlos Lima, Aldo Tinoco, Ubirajara Macedo e outros encontravam-se ali, atrás daquelas grades, mas nenhum rosto apareceu”. (pág.151).
Em um período de, aproximadamente 40 dias de prisão, juntamente com as companheiras, (Laly, Margarida e Diva) Mailde foi convocada para prestar diversos depoimentos que levavam todo um dia de interrogatório, causando cansaço e desgaste emocional.
Em abril de 1966, recebe telegrama da Auditoria Militar do IV Exército, no Recife, comunicando que estava enquadrada nos crimes previstos nos artigos 9, 10 e 12 da Lei 1802/53, a Lei de Segurança Nacional.
Através de amigos contou com a defesa do renomado advogado, o Dr. Roque de Brito Alves. “... os seus honorários eram altos demais para os meus parcos recursos. Com um empréstimo da família e de amigos viajei ao Recife”. (pág.210).
No dia 04 de outubro de 1967, com o habeas-corpus, de nº29. 135, foi excluída da denúncia oferecida pela Auditoria da 7ª Região Militar.
Ao retornar ao trabalho no Departamento de Correios e Telégrafos, Mailde se sentiu discriminada pelos colegas. Era uma época de muita delação e as pessoas tinham medo de serem vistas em companhia de procurados pela ditadura. O que a obrigou a buscar aposentadoria proporcional.
Em 1970, Mailde casou-se com o pesquisador Cláudio Galvão. Cláudio estava de posse de uma bolsa de estudo para a Bélgica e o casal passou um ano residindo na Europa.
Em anos posteriores Mailde desempenhou as funções de Chefe de Gabinete da Secretaria Estadual de Saúde e da Secretaria de Trabalho e Ação Social.
“Este relato de fatos ocorridos em 1964 tem a pretensão de contribuir para o conhecimento da história do golpe militar no Rio Grande do Norte, focalizando, preferencialmente, os acontecimentos que atingiram a Prefeitura Municipal de Natal, nos quais fui envolvida, com alguns companheiros de trabalho do setor de educação e cultura do município.
Por dificuldades emocionais, muitas vezes tive que interromper esta reconstituição; mas, eu vivi, sofri e sobrevivi à perseguição da ditadura. Sinto-me, pois, moralmente comprometida a tirar da escuridão as minhas lembranças reprimidas”. (pág. 27).
O depoimento colhido, além da colaboração de Mailde e do professor Cláudio, é fruto do livro: “1964. Aconteceu em abril”, editora da UFRN, 2ª edição-2004.


Método de alfabetização utilizado pela Prefeitura de Natal na década de 1960, durante a administração de Djalma Maranhão.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

“A Inclusão Social e a Mídia: um único olhar”


O livro A Inclusão Social e a Mídia: um único olhar, lançado no final de 2009, é uma versão da tese de doutorado apresentada em 2007, ao programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por Carminha Soares, com graduação em Letras e Comunicação Social, pela UFRN, e especialização em integração das pessoas com deficiência: habilitação e reabilitação pela Universidade de Salamanca, Espanha.

Para a investigação do discurso utilizado pela mídia norte-rio-grandense sobre inclusão e deficiência, foram utilizados os jornais Tribuna do Norte e Diário de Natal/O Poti, do período compreendido entre os anos de 1992 a 2002.

Todo esse trabalho acadêmico é fruto dos sete anos que Carminha Soares passou à frente da Coordenadoria para Integração da Pessoa com Deficiência – CORDE/RN, e de questionamentos sobre as contribuições da mídia para a inclusão social das pessoas com deficiência.

A síntese do trabalho desenvolvido por Carminha Soares pode ser traduzido na apresentação do livro, nas palavras de Maria Teresa Eglér Mantoan: Sua atuação na comunidade tem como mote o direito à diferença, na igualdade de direitos e, para assegurá-lo, ela se envolve inteiramente, promovendo mudanças e destacando-se por fazer do Brasil um país para “todos”.
É preciso que a mídia e a sociedade brasileiras comecem a refletir sobre a importância da inclusão das pessoas com deficiência, não somente no período dos grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de 2010, e os Jogos Olímpicos de 2016.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SOMOS TODOS CIDADÃOS DO MUNDO




Alguns cidadãos desse país precisam se inteirar dos avanços tecnológicos e das mudanças que ocorreram na vida em sociedade. Em décadas passadas, eram restritos os meios para se estabelecer comunicação entre as pessoas e instituições, o que tornava lento o feedback para proporcionar respostas e soluções mais instantâneas às demandas da sociedade por avanços e melhoria na qualidade de vida.

Hoje, graças à significativa amplitude dos meios de comunicação, especialmente da comunicação virtual e da telefonia móvel, podemos interagir com cidades, estados e países, no resgate de pessoas, no acesso a informações e notícias sobre catástrofes naturais, previsões meteorológicas, possibilitando o contato mais rápido entre pessoas, povos e governos.

Esses avanços foram essenciais para a celeridade do serviço público, em que essas tecnologias permitem ações e respostas mais efetivas aos cidadãos que buscam por serviços e benefícios.

Até o nosso sistema eleitoral, que é conhecido como um dos mais modernos do mundo, foi objeto de avanços para as eleições de 2010, quando cidadãos não residentes em sua zona eleitoral poderão votar para Presidente de República.

Nessa perspectiva, nada impede um cidadão nascido em um município, onde passou boa parte de sua juventude e formação, de galgar novos horizontes nos campos profissional e intelectual, em outras cidades, estados e até fora do Brasil. Isso não o desvincula de suas raízes familiares e culturais e não é impedimento para que opine sobre a sua realidade primeira.

Manter-se isolado de qualquer processo interativo em prol da construção de uma comunidade ou sociedade é uma opção individual de cada um. Independe de residir em um município ou fora dele. Muitas vezes os fatos estão ocorrendo, as decisões sendo tomadas e o cidadão, totalmente indiferente, agindo como se nada daquilo que está sendo decidido afetasse o seu cotidiano. É uma decisão unicamente dele, que passa pelo leque de interesses, visão de mundo e contribuições que queira dar para o desenvolvimento dos seus conterrâneos e compatriotas.

Acabar literalmente com o isolamento e estimular a interatividade, principalmente no formato em que ela é oferecida hoje as sociedades, é uma das finalidades precípuas da comunicação.

Assim sendo, nos dias atuais podemos dizer que não somos cidadãos apenas daqui, dali, de alhures, somos todos cidadãos do mundo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

GRUPO ESCOLAR CEL. ANTÔNIO FLORÊNCIO PEREIRA DO LAGO

O grupo escola Cel. Antônio Florêncio Pereira do Lago foi criado em dezembro de 1927, durante o governo de José Augusto Bezerra. O grupo funcionava atendendo aos primeiros anos do hoje ensino fundamental. Hoje o prédio encontra-se em ruínas e havia a perspectiva de, após a reforma por parte do governo estadual, abrigar mais uma Casa de Cultura, dentro do projeto das Casas de Cultura da Fundação José Augusto.

Ocorre que, pelo valor histórico, arquitetônico e cultural da construção, alguns filhos de Touros vêm se manifestando com relação à reforma do prédio.

Essa lutei eu já venho encampando, também, há algum tempo, inclusive com a publicação de artigos em jornais de Natal/RN, como no artigo abaixo, publicado em 2004.

No dia primeiro de janeiro, durante a procissão do Bom Jesus dos Navegantes, padroeiro de Touros, a professora aposentada Nizete Santos e os ex-alunos Ângelo Neri e Maria Antônia Costa, questionaram a governadora sobre a situação em que se encontra o prédio. A professora Wilma de Faria se comprometeu com a reforma, solicitando um prazo até março de 2010.

OBS: Coincidentemente ao chegar a minha residência para postar esta matéria, às 18h40m, encontrei uma correspondência em que havia um exemplar do Jornal de Natal, do dia 18 de janeiro de 2010, enviado pelo amigo Otoniel Baracho, em que consta matéria do jornalista José Vanilson Julião, baseada em e-mail que enviei ao www.substantivoplural.com.br e www.thaisagalvao.com.br, sobre a situação da escola tourense.

Touros e a Cultura


Uma das louváveis ações do poder público estadual é a criação das Casas de Cultura.Já foram fundadas casas nos municípios de Nova Cruz, Caicó, Assu, Martins, Santa Cruz e Macau.

No município de Touros, cidade histórica, que foi instituída a porta de entrada para a criação do estado do Rio Grande do Norte, a partir da chegada do Marco Colonial português, em 07 de agosto de 1501, não há a preocupação de preservação e resgate da sua história. Prova disso é que um município de tamanha importância, até hoje, não dispõe de um espaço cultural para que os seus munícipes possam fazer e receber cultura.

No aspecto histórico tem a chantagem do Marco, com a chegada da expedição de Gaspar de Lemos; em 1928 o pouso forçado do avião de Ferrarim e Del Prete (aviadores italianos) no local denominado Lagoa do Avião; no turismo tem o farol mais alto da América Latina, o conhecido Farol do Calcanhar; na cultura, poetas como Porto Filho, Luis Patriota e Francisco Brito e grupos folclóricos, sendo o mais conhecido as bandeirinhas (grupo de mulheres que saem as ruas em homenagem aos santos dos festejos juninos, cantando canções populares de domínio público) que conclui a sua festa com o tradicional banho de rio.

A chegada de uma Casa de Cultura, no padrão criado pelo Governo Estadual, seria um passo de significativa importância. As instalações poderiam ser onde hoje funciona a escola estadual Antônio do Lago, prédio histórico que está em precárias condições físicas.

Já que até agora o poder público municipal não tomou tal iniciativa e Touros tem elementos de sobra para fazer tamanha solicitação, apelo aos agentes públicos, Sr. Presidente da Fundação José Augusto, François Silvestre e a Governadora do Estado, profa. Wilma Faria.

A cidade de Touros não merece a maneira como vêm sendo tratadas a sua cultura e a sua história.

Enquanto a vida existir nesta matéria faço meus os versos do poeta Porto Filho “Vou cantar a minha Vila que cintila sob o clarão do luar...”.